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Ensinar a “pescar” em vez de dar o “peixe”

Seja com a ajuda de explicadores, seja com a ajuda de familiares, os estudantes precisam que os ensinem a pescar e não que lhes deem o peixe.

Quem fez o trabalho de casa? - pergunta o professor.
Quase todos fizeram. O António vem, então, ao quadro fazer o exercício pedido. Não consegue. A professora pede-lhe o caderno com o TPC e está certo.

  • António, fizeste tão bem em casa e agora não consegues? Explica lá como fizeste em casa.
  • Foi a explicadora que me disse como era.
  • E não ficaste a saber?
  • Não, ela só me disse a resposta.

Sorte a do António, a professora tê-lo chamado e ter-se apercebido de que ele continuava com dúvidas. Pôde, assim, tirar-lhas.

Este relato, correspondente a muitas situações vividas nas salas de aulas, não significa que as explicações são sempre inúteis. Elas podem ser muito úteis, inúteis ou até prejudiciais.

Explicações prejudiciais ou, no mínimo, inúteis:

  • Salas com muitos alunos de turmas/escolas diferentes em que o explicador dá aulas paralelas. Dá a matéria escolar a um ritmo que pode corresponder ou não ao que cada um dos alunos tem na escola. Desta forma, o aluno tem aulas em duas escolas paralelas e chega a casa sem ter estudado individualmente e, provavelmente, sem ter feito os TPC. Com uma escola dupla e com os TPC ainda para fazer em casa, quando vai ter tempo para descansar, para brincar e para ser criança?
  • Salas com muitos (ou mesmo com poucos) alunos em que as respostas são dadas pelo explicador, em vez de este levar o aluno a descobrir a resolução das suas próprias dificuldades, ou seja, ensiná-lo a estudar autonomamente, apoiando-o nesse processo.

Explicações úteis:

  • O explicador está atento a cada um dos alunos. Ajuda-os a organizarem o seu estudo diário e a sua sessão de estudo. Quando surgem dúvidas, ajuda-os a procurar as melhores formas/instrumentos para as resolverem. Dá o apoio de que cada um precisa, tendo em vista a construção da sua autonomia.

Seja com a ajuda de explicadores, seja com a ajuda de familiares, os estudantes precisam que os ensinem a pescar e não que lhes deem o peixe.

Quero com isto dizer que, de forma progressiva, eles devem aprender a encontrar a melhor forma para organizar o seu estudo e para encontrar respostas para as suas dúvidas. Muitas vezes, as soluções são tão simples quanto estas: primeiro estudar a matéria dada na aula e apenas depois fazer os TPC; se não percebe um conceito, procurar nas páginas anteriores do manual a sua explicação. Claro que dá trabalho, mas sem esse esforço individual não há aprendizagem nem desenvolvimento da autonomia.

Lembro ainda que nas escolas existem salas de estudo e que há professores disponíveis para ajudar os alunos no seu estudo. A frequência é gratuita.

Termino dizendo que este artigo não é contra as explicações e lembrando que há situações em que elas podem ser muito úteis se, de facto, respondem às dificuldades do estudante, tendo sempre presente o objetivo de promover a sua autonomia. Pretendo, sim, dar algumas pistas de reflexão para os pais ponderarem na decisão a tomar sobre a melhor forma de apoiar os seus filhos.


ARMANDA ZENHAS
Professora aposentada. Doutora em Ciências da Educação pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto. Mestre em Educação, área de especialização em Formação Psicológica de Professores, pela Universidade do Minho. Autora de livros na área da educação.
Professora profissionalizada nos grupos 220 e 330. Licenciatura em Línguas e Literaturas Modernas, nas variantes de Estudos Portugueses e Ingleses e de Estudos Ingleses e Alemães, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Professora profissionalizada do 1.º ciclo, pela Escola do Magistério Primário do Porto.

Artigo originalmente publicado no Educare.pt

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