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Em Portugal, a introdução da vacina contra o vírus do sarampo no Programa Nacional de Vacinação remonta ao ano de 1974, constituindo um marco incontornável na narrativa nacional da mortalidade infantil. Contudo, e apesar da existência de uma vacina custo-eficaz, os seus atributos fazem deste vírus figura de destaque no cenário mundial, responsável em 2015 por 15 mortes a cada hora, segundo dados da Organização Mundial de Saúde. Por cá, e apesar do usufruto de um contexto social e vacinal francamente mais favorável, foi recentemente declarada epidemia, a terceira desde 1974.
O vírus do sarampo transmite-se através de aerossóis (partículas virais em suspensão no ar) e/ou contacto direto. O seu período de contágio está compreendido entre os 4 dias que antecedem e os 4 dias que sucedem o exantema, sendo mínimo após o segundo dia. Rotulado como altamente contagioso, pode permanecer ativo e em suspensão atmosférica durante 2 horas. Tem um período de incubação (desde a infeção até ao aparecimento dos sintomas) de 10 a 12 dias, podendo variar entre 6 e 21.
Numa fase precoce surge uma constelação de sinais/sintomas tais como febre, congestão nasal, tosse e conjuntivite não purulenta. A inespecificidade das manifestações iniciais do sarampo torna-o virtualmente indistinguível de outros quadros virais simples, à exceção da presença das chamadas manchas de Koplik – pontos esbranquiçados com 1 a 3 mm de diâmetro que surgem na mucosa jugal (face interna da bochecha) dois dias antes do surgimento do exantema, podendo permanecer até três dias. São patognomónicas, ou seja, exclusivas do sarampo, podendo, contudo, não integrar o conjunto de sintomas.
O surgimento das manchas vermelhas e pápulas na pele marcam a fase exantemática característica que se inicia entre o segundo e quarto dia de febre. As lesões cutâneas apresentam uma progressão típica: começam na face e envolvem posterior e progressivamente o tronco e os membros em 2 a 3 dias, poupando habitualmente a palma e a planta dos pés. Desaparecem pela mesma ordem de aparecimento após 6 a 7 dias. Poder-se-á notar posteriormente uma descamação fina nas áreas mais intensamente afetadas.
Complicações
Apesar de na maioria dos casos ter um curso benigno, as complicações podem ser graves.
O vírus do sarampo provoca uma espécie de desarranjo do sistema imunitário, debilitando-o. É este o principal fenómeno responsável pela elevada mortalidade associada. Assim, as complicações podem estar diretamente relacionadas com a infeção pelo vírus do sarampo ou, frequentemente, ser reflexo da infeção subsequente por outros agentes oportunistas.
A diarreia é a complicação mais comum, sendo a pneumonia a mais mortal. A pneumonia pode ser consequência do atingimento pulmonar do vírus do sarampo ou da infeção por outras bactérias ou até vírus. A encefalite aguda (infeção das estruturas cerebrais), para além de apresentar uma taxa de mortalidade importante, pode deixar sequelas neurológicas em até um quarto dos casos. A panencefalite esclerosante subaguda é uma entidade que, embora rara, impõe-se como uma das mais temíveis – surge entre 7 e 10 anos após a infeção inicial e tem um curso invariavelmente fatal.
Consiste em medidas de suporte/controlo sintomático uma vez que não estão disponíveis terapêuticas específicas comprovadamente eficazes dirigidas à eliminação do vírus. Existe evidência de que a vitamina A tem benefícios, pelo que a Organização Mundial de Saúde recomenda a sua administração, sobretudo nos casos graves.
A vacinação constitui a medida preventiva mais importante, tendo sido apontada como determinante na diminuição da mortalidade infantil mundial associada ao Sarampo. Porém, esta doença ainda assola uma parcela populacional significativa a nível global, sendo responsável por mortes na sua maioria evitáveis.
Em Portugal, a imunização é gratuita e contemplada pelo Programa Nacional de Vacinação, estando integrada na VASPR (vacina anti sarampo, Parotidite epidémica e rubéola, numa única inoculação), administrada aos 12 meses e aos 5 anos. É uma vacina comprovadamente segura e eficaz. Atualmente, a cobertura vacinal excede os 95%, o que teoricamente interrompe a propagação em larga escala. Porém, face ao panorama europeu e à insurgência de bolsas e movimentos anti vacinação sustentados na desinformação, poderá esta cadeia de imunidade ser interrompida, permitindo a circulação e infeção pelo vírus. Portanto, importa enfatizar que o cumprimento do programa vacinal, que garante uma rede comunitária protetora (imunidade de grupo), é um dever parental cujo impacto se estende ao âmbito da saúde pública.
A contagiosidade do vírus do sarampo tem garantido a sua circulação mundial, encontrando bolsas populacionais suscetíveis (não vacinadas) por todo o globo. Segundo as metas definidas pela Organização Mundial de Saúde, a sua erradicação global poderá apenas ser projetada para 2020, quando outros objetivos de menor escala forem alcançados. Por enquanto, cabe a cada um de nós executar o nosso papel na sua prevenção.
SERVIÇO DE PEDIATRIA DO HOSPITAL DE BRAGA
Este artigo é da autoria da equipa médica do Serviço de Pediatria do Hospital de Braga, instituição certificada pelo Health Quality Service (HQS).
A informação aqui apresentada não substitui a consulta de um médico ou de um profissional especializado.
Margarida S. Abreu
Mariana Portela
Ricardo Jorge Silva
Susana Carvalho