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Piaget mostrou-nos o jogo simbólico como um processo espontâneo através do qual a criança lida com as inquietações que surgem ao longo do seu crescimento e para as quais ela ainda não dispõe de meios de racionalização e verbalização. Uma criança que não brinca será, portanto, um adulto sem respostas, alguém que não teve oportunidade de buscar soluções para as perplexidades e temores que encontrou ao longo do seu crescimento.
Dentro do jogo simbólico, a expressão dramática constitui um instrumento privilegiado. Assumir papéis, atribuir papéis, construir pequenas narrativas, estabelecer as regras de um mundo ficcional são meios para “ensaiar” a vida. Este “ensaiar” assume dois sentidos: ensaiar como imitação do real observado – o ator que repete uma cena – e ensaiar como procura de respostas – o investigador que procura soluções. A criança é simultaneamente ator e investigador, constrói um mundo ficcional com regras que ela própria dita, projetando as imagens que ela construiu a partir da sua observação. Ao abrigo da ficção, a criança é livre para experimentar e descobrir. Ela usa o jogo dramático individualmente e em pequenos grupos, de forma autónoma e espontânea. Porém, quando é transportado para a sala de aula e proposto pelo educador ou professor, o jogo dramático ganha uma dimensão coletiva, onde a sua riqueza pedagógica se evidencia. É possível trabalhar várias competências através do jogo dramático: a coordenação física-motora, a concentração, a confiança, o relacionamento interpessoal, a criatividade.
As crianças entram num espaço onírico – a “aldeia do silêncio” – onde cada um tem o seu lugar – a sua “casa”. Entre esse espaço individual bem definido e o espaço público de partilha, várias atividades podem ter lugar mediante os objetivos pedagógicos estabelecidos. O professor ou educador será o timoneiro dessa viagem pelo imaginário, criando para cada etapa uma narrativa estimulante.
Não. O jogo dramático poderá conduzir à criação de uma peça de teatro com as crianças ou não. A elaboração de uma apresentação teatral não deve ser o objetivo das aulas de expressão dramática, mas antes um meio para a aquisição de competências pedagógicas (a autoconfiança, a exposição pública e a expressão física, motora e vocal). Se o professor ou educador pretender criar uma apresentação teatral com as crianças, deve ter o cuidado de que o guião advenha da colaboração entre todos os elementos da turma e que todos possam participar respeitando as suas características pessoais e afinidades. Se uma criança tiver muito medo da exposição pública, o exercício de uma breve aparição pode ser um ótimo desafio; se uma criança for muito extrovertida, um papel que abarque momentos de exuberância e de autocontrolo pode ser um ótimo desafio. Os desafios lançados a cada criança serão as suas conquistas e darão sentido a esse trabalho.
ISABEL FERNANDES PINTO
Nasceu no Porto, em 1980. É licenciada em Estudos Teatrais pela ESMAE-IPP, tendo complementado a sua formação de atriz no Laboratoire de Recherches Théâtrales, sediado em Estrasburgo. É também licenciada em Arquitetura pela FAUP, tendo colaborado em gabinetes nacionais e franceses. É atriz, contadora de histórias e autora de contos e textos para teatro. Em 2005 criou o projeto Faunas – teatro portátil dirigido a jovens – onde escreve, encena e interpreta, que tem levado a várias escolas, bibliotecas e auditórios.