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"Eu sou uma criança jovem, ainda tenho 12 anos e sofro por crescer sozinho. Desde os meus 2 anos que os meus pais estão separados. Era bebé e não senti diferença alguma. Agora que passaram 10 anos, sinto uma grande dor dentro do meu coração. Vivo com a minha mãe mais os meus 2 irmãos que são mais velhos. A minha mãe só quer trabalhar, trabalhar, trabalhar, o que não é necessário. Trabalha 18 horas por dia, um grande exagero. Os meus irmãos são mais velhos e estou sete horas com eles. O meu pai vive com outra mulher, da qual tem uma filha de 8 anos. Só estou com a minha mãe às 22 horas da noite e vou para a cama depois da uma. Tenho explicações, mas na família não há quem me leve à escola e cuide de mim. Posso não ter quem me ajude, mas na escola tiro 4 e 5. Mas isso não é suficiente, só aumenta mais esta dor. Devem estar a perguntar porque não falei no meu pai. Ele é empresário de pesca e só estou com ele ao fim de semana.
A revolta que sinto dentro de mim não é por os meus pais estarem separados, mas sim porque não me dão carinho. Às vezes sinto curiosidade em saber como é viver em casa do meu pai durante os dias de semana.
Só quero que a minha família compreenda que preciso de mais carinho, amor e atenção. E quem ler esta mensagem que pense se não se passa o mesmo com os seus filhos."
Os profissionais que se confrontam diariamente com a dor dos outros, seja ela física ou psicológica, vão encontrando mecanismos de defesa, de forma que, embora sendo empáticos, não se deixem arrastar pelo sofrimento alheio. Apesar de não ficar indiferente a nenhum problema que me seja relatado, sobretudo se este implicar grande angústia e sofrimento, o discurso desta criança, durante um atendimento, deixou-me muito perturbada. O relato escrito que ela elaborou para transmitir o quanto sofre com a ausência dos pais traduz muito superficialmente o desespero que deixou transparecer no seu discurso e lágrimas. "Prepare-se que vou chorar muito": foram estas as palavras com que o aluno em questão iniciou. E chorou, chorou, chorou... Admitiu que não era capaz de conversar com os pais sobre a sua solidão e aceitou que os chamasse e lhes transmitisse os seus sentimentos, mediante o fornecimento do texto com que iniciei esta reflexão e que foi escrito por ele.
Estranhei o silêncio do pai que se comprometera a marcar atendimento depois de contactar a mãe do aluno. Quando tentei novamente marcar atendimento com a mãe, esta informou-me que o filho lhe dissera que afinal o seu problema estava resolvido e que já não era necessário falar com a psicóloga. Embora aqui não possa revelar, sei porque me quis manter longe dos pais.
A falta de tempo para os pais acompanharem o percurso de vida dos filhos é um tema já muito gasto, tão gasto que quase me pareceu inútil abordá-lo. Mas depois de ponderar, concluí que não podia deixar estas palavras fechadas no processo do aluno. Na verdade, tal como ele diz, é importante pensarmos se os nossos filhos não estarão a viver nas mesmas circunstâncias. Sei que em muitas situações o mercado do trabalho limita e condiciona fortemente o tempo para estarmos com os nossos filhos, mas em muitas outras talvez não tenhamos os filhos como primeira prioridade, podendo estes estar a pagar uma fatura demasiado alta.
ADRIANA CAMPOS
Licenciada em Psicologia pela Universidade do Porto, na área da Consulta Psicológica de Jovens e Adultos e mestre em Psicologia Escolar. Detentora da especialidade em Psicologia da Educação e das especialidades avançadas em Necessidades Educativas Especiais e Psicologia Vocacional e de Desenvolvimento da Carreira atribuída pela Ordem dos Psicólogos Portugueses. Atualmente desenvolve a sua atividade profissional no Agrupamento de Escolas do Padrão da Légua em Matosinhos.
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