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9.º ano: o que vais ser quando fores grande?

Decisões sobre o futuro não são fáceis de tomar. Quando chegam ao 9.º ano, os alunos são confrontados com a necessidade de fazer uma escolha vocacional. Que caminho escolar seguir?

O que vais ser quando fores grande? Talvez seja a pergunta que os adultos mais gostam de fazer às crianças. Chegados ao 9.º ano, muitos alunos ainda não sabem a resposta. Outros elegem a profissão que sempre ouviram dizer ser a melhor ou, então, a que melhor conhecem. Os jovens do século XXI continuam a sonhar com empregos dos séculos XIX e XX.

De acordo com o relatório “Dream Jobs?”, que reúne informação recolhida entre os jovens de 15 anos que participaram no último PISA 2018, em Portugal, 50% dos alunos esperam, aos 30 anos, estar a trabalhar numa das dez profissões mais desejadas por rapazes e raparigas inquiridos. Profissões tradicionais como médico, professor, gestor, engenheiro, advogado, polícia, técnico de informática, enfermeiro, designer, psicólogo, arquiteto, veterinário, ator, mecânico de automóveis e músico.

Quando iniciam o processo de orientação vocacional, os jovens ponderam algumas destas profissões, admite a psicóloga educacional Mafalda Vasconcelos, que trabalha numa empresa especializada nesta área, em Braga. “Antes de mais, são as áreas com as quais a maioria dos jovens já teve algum contacto ou ouviu falar mais ao longo da sua vida, seja em casa, no contexto escolar ou nos vídeos e séries que normalmente veem”, explica.

Opinião partilhada por Ana Pacheco, psicóloga educacional num agrupamento de escolas da Região Norte. Ela reconhece a preferência dos alunos que todos os anos orienta por profissões tradicionais, como médico, veterinário ou engenheiro informático. E explica-a, sobretudo, pela influência exercida pelos pais. “As novas profissões do século XXI ainda não são muito abordadas. Ainda existe uma pressão familiar para essas profissões [mais tradicionais], e os alunos acabam por chegar ao 9.º ano um bocado formatados.”

Em Portugal, existem dois momentos críticos para a orientação vocacional em contexto escolar. No 9.º ano, através de oito sessões em grupo, ou seja, em contexto de turma, às quais se acrescentam até três sessões individuais, totalizando um processo que tem início no segundo período e se estende até meados de maio.

O segundo momento de orientação vocacional acontece no 12.º ano. Inclui, por exemplo, informação sobre saídas profissionais, cursos e condições de acesso. Com uma diferença, relativamente ao 9.º ano, é que, nesta fase, o processo é facultativo. “Apesar da forte adesão por parte dos alunos nos fazer acreditar que, de facto, há ainda um trabalho a fazer ao nível da orientação vocacional neste nível de escolaridade”, refere Ana Pacheco.

Em contexto real

Ao abrigo de um projeto financiado, os alunos do 9.º ano, no agrupamento onde Ana Pacheco atua, tiveram uma oportunidade diferente, fora do convencional programa de orientação vocacional seguido, em linhas gerais, por todas as escolas. A oportunidade de ser “aprendiz por um dia”, estar num contexto real de trabalho, numa profissão à sua escolha e do seu interesse.

A iniciativa, diz a psicóloga, foi bem acolhida tanto pelos alunos como pelas entidades laborais que os receberam. “Os alunos ficam a conhecer melhor o contexto de trabalho ao contactarem com profissionais da área. Percebem as dificuldades que estes profissionais ultrapassam e o que mais gostam na profissão. Isto ajuda-os a tornarem mais concreta a fantasia que têm de uma profissão.”

A psicóloga está convencida da grande utilidade de levar os alunos a contactarem diretamente com os profissionais no seu local de trabalho. “Mais experiências como esta e, no final do 9.º ano, seria mais fácil para os alunos tomarem uma decisão consciente e mais adequada à sua realidade e àquilo que realmente ambicionam.”

E, como “a estratégia de infusão de conceitos vocacionais pelas disciplinas e atividades curriculares ainda é muito reduzida”, constata Mafalda Vasconcelos, “os jovens não têm possibilidade de explorar outras oportunidades e de conhecer mais a fundo outras áreas profissionais, ficando mais facilmente vinculados àquelas que já conhecem”.

A orientação vocacional que acontece em contexto escolar no 9.º ano passa, explica Ana Pacheco, por aplicar aos alunos testes de orientação vocacional, refletir sobre os seus resultados, levar os alunos a pensarem nos seus interesses, na sua personalidade e no que influencia a tomada de decisões (valores, família, media). Passa também por explorar com os alunos as várias opções do sistema educativo português. “O que eles já fizeram, onde é que eles estão e onde é que podem ir.”

Ora, é neste avaliar do ponto da situação que, segundo a OCDE, se percebe a existência de uma certa “confusão na carreira”. O que isto significa? Que os alunos subestimam os níveis de escolaridade que são, por norma, necessários para alcançar uma determinada profissão.

Entre os alunos que passam pela psicóloga Ana Pacheco, ser médico é a profissão de sonho mais comum. Seguem-se enfermeiro, psicólogo, informático, advogado, veterinário, futebolista, GNR ou PSP. Profissões estas em que um maior número de alunos quer ser “aprendiz por um dia”.

Um em cada cinco jovens de 15 anos tem o seu percurso escolar em desalinho com as suas expectativas de carreira, de acordo com as informações recolhidas entre os participantes no PISA 2018. O cenário agrava-se entre os alunos mais desfavorecidos, como mostram os dados do relatório “Dream Jobs?”. Um em cada três jovens dos 25% mais desfavorecidos têm as suas aspirações em desalinho, comparados com um em cada dez dos 25% mais favorecidos.

Antecipar dúvidas

A preocupação com o futuro está sempre presente na orientação vocacional. Mas, quando pergunta aos jovens o que pensam escolher e porquê, Mafalda Vasconcelos percebe que existe “um desconhecimento muito grande face às diferentes áreas académicas e profissionais e ao que elas representam ao nível das funções, tarefas e contextos de trabalho”.

Para antecipar estas dúvidas, que por vezes se estendem até tarde, Mafalda Vasconcelos defende “uma maior integração da educação para a carreira nos contextos escolares” e, “paralelamente, a procura de apoio profissional especializado”. Apesar de o acesso à informação estar, hoje em dia, mais facilitado, “conseguir filtrar toda a informação disponível está longe de ser tarefa fácil, e os pais sentem que, face à realidade que vivenciaram muitos anos antes, já não estão preparados para ajudarem os filhos nestas escolhas”, realça.

O relatório da OCDE confirma que o grau de envolvimento dos jovens de 15 anos em atividades ligadas ao aconselhamento de carreira varia muito entre os 32 países estudados. Ainda assim, a organização alerta que a maioria dos jovens se limita a pesquisar na Internet e a responder a questionários de orientação vocacional. O que a OCDE garante ser insuficiente. Outros dados mostram que menos de metade dos jovens falou com um psicólogo vocacional antes dos 15 anos e menos de 40% visitaram uma feira de emprego.

“Os alunos – constata Ana Pacheco – chegam ao 9.º ano muito desorientados, indecisos e confusos pela falta de oportunidade em experimentar atividades práticas.” Por essa razão, a orientação vocacional devia começar mais cedo, afirma a psicóloga, sugerindo o 7.º ano, com uma abordagem “obviamente” adequada àquela faixa etária. Desta forma, diz, “os alunos teriam mais tempo para amadurecerem ideias e contactar com várias profissões”.

O ideal, diz Ana Pacheco, seria pôr os alunos a refletirem: “Para quê que eu estou a estudar?” ou “Para quê que me estou a esforçar nesta matéria?”. “A orientação vocacional poderia até funcionar como fator motivador e envolvente”, sustenta a psicóloga. “Ou seja, dar mais significado a todo o processo de aprendizagem e tentar, de alguma forma, ajudar os alunos a fazerem a ponte entre a importância da escola e o impacto que ela tem no seu futuro.”


ANDREIA LOBO
É jornalista especializada em educação desde 2007, e nos últimos anos tem colaborado na produção de conteúdos do EDULOG, o think tank para a educação da Fundação Belmiro de Azevedo. Integrou projetos de investigação e divulgação científica nas áreas da educação para os media e da aprendizagem da leitura e da escrita. Antes, trabalhou em meios de comunicação social como o jornal A Página da Educação e o portal EDUCARE.PT.

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