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Qual a razão para se optar pelo dia 23 de abril? Publicam-se livros todos os dias…
Por coincidência, nesta data nasceu e morreu William Shakespeare, deixou-nos Cervantes e numerosos escritores famosos vieram ao mundo ou faleceram.
Mas já antes a Catalunha instituíra um Dia Internacional do Livro, festejado a 5 de abril, em que, tradicionalmente, se ofereciam livros e rosas aos amigos. O hábito gentil de associar o livro a uma flor nesta celebração foi adotado em vários países e ainda perdura.
Hoje, o Dia Mundial do Livro celebra-se em todo o planeta das mais diversas formas.
Mas gostaria de me concentrar na grande importância dos livros para os mais novos e, muito particularmente, para as crianças do jardim de infância que, sem saberem ler, têm por eles um amor e um fascínio que excedem, muitas vezes, os das crianças mais velhas.
O livro contado por uma educadora ou por um familiar ganha uma carga afetiva e íntima.
Ele revela-se a grande porta para a descoberta consciente da língua, que é, afinal, como dizia Fernando Pessoa, a nossa pátria. No livro, a língua se faz arte, explorando a beleza das palavras, os ritmos, por vezes as rimas.
Ele ensina ou faz a imaginação voar. Brinca com o humor. Expõe situações paradigmáticas que preparam para a vida. Com ele vivem-se aventuras que de outra forma não eram possíveis.
Folhear um livro, um álbum ilustrado, constitui também uma incursão nas artes visuais, no mundo das formas, das cores, das sensações. Algumas obras destinadas a estes pequenos utentes nem sequer têm texto, vivem exclusivamente da ilustração, e isso lhes basta.
Caras educadoras e caros educadores, leiam, leiam e debrucem-se sobre as páginas com as vossas crianças. Levem-nos a recontar, a continuar as histórias. Façam-nos memorizar lengalengas, trava-línguas, poemas e canções. Dramatizem enredos, encham as paredes de desenhos que os meninos fizeram após a vossa leitura, e o livro deixará de ser apenas um conjunto de páginas unidas por uma capa e fará parte das crianças, da aula, da escola.
LUÍSA DUCLA SOARES
Nascida em Lisboa e licenciada em Filologia Germânica, dedica-se especialmente à literatura infantojuvenil como autora, estudiosa, divulgadora. Tendo sido jornalista, adjunta do Ministério da Educação e trabalhando 30 anos na Biblioteca Nacional, tem realizado numerosas sessões de incentivo à leitura e conferências em escolas, bibliotecas, universidades.
Autora de cerca de 130 livros, recusou, por motivos políticos, o Prémio Maria Amália Vaz de Carvalho e foi por duas vezes galardoada pela Fundação Calouste Gulbenkian, uma delas pelo conjunto da sua obra.