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Com uma população a rondar os cinco milhões, metade da portuguesa, e uma área oficial de 699 km² (Portugal tem 92 152 km²), Singapura é um dos países mais ricos do mundo. O seu sistema educativo ganhou visibilidade pelos resultados obtidos pelos alunos nas principais avaliações internacionais.
Na edição de 2003 do Trends in International Mathematics and Science Study (TIMSS), 90% dos alunos do 4.º e do 8.º ano pontuaram acima da média internacional em matemática e ciências. Já nos resultados dos testes do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) de 2015 e 2018, os jovens de 15 anos superaram a média obtida pelos 72 países participantes. Isto, pontuando em média 13% acima em leitura e 16% em matemática e 11% em ciência.
A valorização do trabalho docente, a transformação operada ao nível da formação inicial e a ênfase na liderança educacional são frequentemente apontadas como a chave para o sucesso dos alunos. Embora o inglês seja a língua de instrução oficial, o mandarim, o malaio e o tâmil - línguas maternas - são também ensinadas nas escolas.
Um professor em início de carreira ganha o mesmo que um contabilista ou um engenheiro civil. Os estudantes que estão nos cursos de formação de professores não pagam propinas. Os estágios são remunerados. O Ministério da Educação fornece aos futuros docentes apoios para a compra de livros e de portáteis e aos professores já em funções concede bolsas para formação contínua, dentro e fora do país e licenças sabáticas. Os graduados na área de ensino têm colocação assegurada, no final do curso.
“As políticas que atraem jovens para a profissão são as mesmas que mantém os professores na profissão”, lê-se no relatório “Empowered educators: How high-performing systems shape teaching quality around the world”, do National Center on Education and the Economy e que serve de base a este artigo. Outro fator contribui para tornar a profissão atrativa: “Os professores gozam de um estatuto social elevado e são muito respeitados pelo público em geral.”
Em Singapura, existe apenas uma instituição responsável pela formação inicial de professores. O processo de candidatura ao National Institute of Education (NIE) é altamente seletivo. Em termos académicos, os candidatos são selecionados entre um terço dos melhores da sua faixa etária e pode ser-lhes pedido um teste adicional de proficiência em inglês.
Os currículos dos estudantes são vistos à lupa. Cursos e qualificações específicas são valorizados. De seguida, explicam os autores do relatório, “uma lista curta de candidatos é entrevistada por reitores experientes que avaliam a apetência para o ensino, as competências comunicacionais e a paixão pela educação”. Um em cada três dos pré-selecionados passa na entrevista.
Para muitos dos candidatos a professores, o treino para lecionar começa antes do ingresso nos cursos de formação inicial. É-lhes requisitada a frequência num programa de introdução ao curso de professor, ministrado pela Academia de Professores de Singapura (AST, em sigla inglesa). É uma forma de os candidatos se conectarem com a experiência da docência antes de começarem a estudar para ser professor. Os conteúdos desenvolvidos incluem o planeamento de aulas, a avaliação das aprendizagens, gestão da sala de aula, introdução às tecnologias e educação e cidadania.
Finalizado o treino na Academia de Professores de Singapura, os candidatos passam alguns meses em escolas, como estagiários contratados. O objetivo é, novamente, proporcionar aos candidatos uma experiência real que lhes permita enquadrar as futuras aprendizagens no NIE. Se o estudante for considerado apto para ingressar na profissão docente e continuar comprometido a estudar para tal pode inscrever-se no NIE e avançar com a formação inicial de professor.
Durante o curso de formação inicial, os futuros professores são avaliados pelo NIE. Mostrando falta de atitude, apetência ou personalidade para serem professores (por norma, um número pequeno) são aconselhados a abandonar o programa. Todo o trabalho é pago. Os candidatos recebem um salário mensal do Ministério da Educação, desde o começo do treino para a docência, pré-requisito para o ingresso na formação inicial.
Depois da graduação nos cursos de formação inicial, os recém-diplomados têm de trabalhar três a quatro anos como docentes. O emprego é garantido. As escolas recebem a garantia de que os novos professores estão bem preparados e foram especificamente selecionados para satisfazer as suas necessidades.
A colocação nas escolas é centralizada e da responsabilidade do Ministério da Educação. Acontece anualmente para todos os professores com pelo menos dois anos de serviço completo na sua primeira colocação. Os diretores das escolas têm autonomia para identificar, noutros estabelecimentos de ensino, candidatos adequados ao seu projeto educativo. Mas, a “transferência” tem de ser consentida pela direção das escolas onde os professores estão colocados.
Além de ser responsável pela formação inicial de professores, o NIE ministra formação em contexto de trabalho, programas de graduação, formação contínua para professores líderes e diretores de departamentos, vice-diretores e diretores.
A formação inicial de professores baseia-se muito na experiência letiva. Consoante o programa seja uma graduação (de quatro anos) ou uma pós-graduação (de 16 meses), a componente prática varia entre 22 e 10 semanas. Estas práticas – Experiência Escolar, Assistência de Ensino e Práticas de Ensino 1 e 2 –, garantem os autores do relatório, “servem como um recurso crítico para as discussões e reflexões dos alunos-professores em cursos no NIE e são úteis para aprofundar a sua compreensão da teoria e da prática”.
A Experiência Escolar inicia-se no final do primeiro ano de formação inicial. O estudante é colocado uma semana numa escola primária (do 1º ao 6.º ano) e outra numa escola secundária (do 7º ao 12º ano). Cabe-lhe, durante esse período, recolher dados de observações e usar aquando do regresso ao curso. Já o estágio final (Práticas de Ensino 2) tem a duração de 10 semanas tanto nos cursos de quatro anos, como nos de 16 meses. O objetivo do estágio é permitir aos estudantes-professores adquirir as competências necessárias para o início da carreira.
Quando acabam o curso de formação inicial, os novos professores passam por um período de indução. Este programa de dois anos é gerido pelo Ministério da Educação e desenhado para atender às necessidades da escola. Quando completam o terceiro ano de serviço, os professores iniciantes, passam a ser considerados experientes. Durante o período de indução, é-lhes atribuído 80% da carga de trabalho de um professor experiente. Esta redução destina-se a assegurar que os iniciantes têm tempo adicional para planear aulas, participar nas atividades de acolhimento, observar outros professores e receber mentoria. Todo o seu trabalho é sujeito a uma avaliação. Atingir a categoria de professor experiente equivale a ganhar estabilidade profissional.
A ideia de que os professores precisam de formação contínua está “institucionalizada” nas escolas. Todos os professores têm direito a 100 horas anuais remuneradas para frequentar cursos, ações e atividades.
Cada escola tem um professor responsável pelo desenvolvimento profissional do corpo docente. Cabe-lhe, mediante as necessidades da escola e em parceria com os vários departamentos disciplinares, traçar o plano de desenvolvimento que auxilia a escola a atingir os seus objetivos. As escolas põem ainda em prática ações menos formais de formação: atividades ou seminários de partilha de experiência letiva.
A liderança é vista como a força motriz das escolas. Por essa razão, o Ministério da Educação presta muita atenção e disponibiliza muitos recursos para identificar líderes escolares. Todos os diretores e coordenadores de departamento recebem formação na área da liderança, subsidiada pelo Governo, antes de assumirem esses cargos. Anualmente, os professores são avaliados pelas competências de liderança e de ensino. As avaliações são revistas pelo ministério, juntamente com os diretores das escolas. E é através deste processo que o sistema educativo reconhece e premeia os melhores professores.
ANDREIA LOBO
É jornalista especializada em educação desde 2007, e nos últimos anos tem colaborado na produção de conteúdos do EDULOG, o think tank para a educação da Fundação Belmiro de Azevedo. Integrou projetos de investigação e divulgação científica nas áreas da educação para os media e da aprendizagem da leitura e da escrita. Antes, trabalhou em meios de comunicação social como o jornal A Página da Educação e o portal EDUCARE.PT.
Andreia Lobo
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Armanda Zenhas