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SOS: lidar com adolescentes

Quando dizer sim e como dizer não aos adolescentes? A questão juntou pais e professores para ouvir as explicações de um psicólogo para o desenvolvimento.

Não há manual de instruções sobre como ser bom pai. Tão pouco sobre como ser bom filho. Mas a psicologia pode dar uma ajuda. Bem necessária. Sobretudo quando se trata de conviver com adolescentes. João Belchior está habituado a lidar com as dificuldades da tarefa de educar. É pai e psicólogo.

Impor limites. É, desde logo, o que passa pela cabeça de pais, educadores e professores quando os jovens "estão a passar das marcas". "Mas as crianças não chegam simplesmente à adolescência e começam a precisar de regras", esclarece João Belchior, especialista em psicologia para o desenvolvimento. "O trabalho tem de começar muito antes." Quando? As regras que vão nortear a educação dos nossos filhos são delineadas mesmo antes de sermos pais. "Enquanto fomos alvo do nosso processo educativo." E num determinado momento se aflora a ideia: "Quando eu for pai ou mãe não vou fazer isto aos meus filhos."

Também importante, salienta, é perceber que as crianças recebem educação em diversos contextos e de vários agentes. Onde se incluem tios, vizinhos, amigos dos pais...
Com valores, formas de agir e regras "quase nunca em sintonia". Somam-se os avós, transformados em "agentes disruptivos cuja função é avacalhar o processo educativo", ironiza o psicólogo. Uns e outros vão assumindo mais ou menos importância durante a fase de crescimento. "Toda a comunidade educa", esclarece, "no entanto, continuamos a atribuir a responsabilidade aos clássicos pais e professores".

Ao chegar à adolescência as tecnologias e amigos assumem a liderança. A família e a escola perdem o terreno. Os pares começam a servir de exemplo. Por isso, João Belchior aconselha os pais a incentivarem as dormidas em casa, os lanches, o estudo. O objetivo é não perder de vista as amizades dos filhos. "Boas ou más, é importante ter as companhias por perto, saber com quem andam, para os podermos orientar."

Lidar com adolescentes obriga os educadores a colocar muitos assuntos na mesa para discussão. "É muito importante colocarmo-nos no lugar deles. E perceber quais os valores que estão ali em causa.” Entender primeiro, para depois atender. E pelo meio comunicar, com afeto e razão. "O que digo hoje deve ser o mesmo que amanhã. Se não for, devo explicar porque mudei de posição", esclarece o psicólogo.

Voltando aos afetos. "A componente emocional é tão importante quanto negligenciada", constata João Belchior. Mas não há quem nos ensine a sentir. Antes, a gerir emoções, a estar triste ou deprimido. Justificações como "o mal dele é mimo" não existem, garante. Contudo alerta os educadores para não confundirem afetividade com falta de regras: "Podemos ser afetivos e exigentes, mas sê-lo com os nossos filhos e connosco."

Fronteiras e limites

Uma estrada sem linhas brancas é difícil de conduzir. Com esta imagem é fácil perceber a utilidade de estabelecer fronteiras. "Estamos mais seguros como pais se soubermos que as crianças e os adolescentes cumprem os limites." O que não significa que, num caso ou no outro devam ser impostos. “É fundamental que as regras sejam construídas em família e que todos as conheçam", alerta João Belchior. Assim, quando o seu cumprimento estiver ameaçado, todos podem contribuir para a sua defesa.
Quem educa adolescentes sabe o quão difícil se torna qualquer posicionamento. Mais cedo ou mais tarde, haverá um pedido que vai pôr os adultos encostados à parede. Sair dessa zona de perigo requer uma dose de serenidade e bom senso. "Nem dizer não só porque sim, nem sim só porque é fácil."

A dificuldade de dizer sim ou não, acerca de qualquer assunto que afete os adolescentes, nunca pode impedir os pais de decidir. O psicólogo lembra que uma orientação positiva ou negativa terá sempre um determinado valor. Logo, "não pode ser dada de forma avulsa". Mas mais importante que o sim ou o não, acrescenta, "é o processo que leva a essa tomada de posição".

Como pai, João Belchior não escapa a este dilema. O exemplo que dá surge da sua vida familiar. Explica que os filhos são estimulados a escolher o progenitor a quem se dirigir. "Têm de escolher bem o adulto para o que querem ver decidido, já que o primeiro a responder é que ganha."

Mas dizer não ou sim a qualquer pedido do adolescente pode esperar. É importante que os adolescentes percebam que a tomada de decisão não é imediata. Há que ponderar. Pesar os prós e os contras. Alinhar as perspetivas do casal. Para que a resposta reúna consenso. No entanto, adverte o psicólogo, “toda a discussão sobre a não concordância deve ser feita nos bastidores”. Ou “os pais serão instrumentalizados”.

Porque temos de dizer não? A resposta não pode ser a óbvia. Porque sim. Mostrar autoridade. Ou pensar “se não precisei, tu não vais precisar”. São argumentos que também devem ser descartados. Seja como for, João Belchior aconselha os pais a refletirem sobre se o não é mesmo necessário. “Há lutas que só geram desgaste. Se chegarem à conclusão de que o não pode ser um sim, não receiem mudar a resposta.” Claro que uma mudança de posição vai implicar sempre que se expliquem ao adolescente as razões do volte-face. Mas basta simplesmente admitir que uma reflexão sobre o tema os fez mudar de ideias.

Ações e reações

Os limites devem ser claros e discutidos em família. Se está em causa sair à noite. Os pais precisam de negociar as condições. Quantas vezes por semana? Até que horas? Com quem? Quanto dinheiro vais gastar? Assertividade, ou seja, “ter a capacidade de dizer o que queremos sem magoar o outro” é a regra número um do diálogo com o adolescente. “Evitem as indiretas, não digam por meias-palavras”, aconselha João Belchior.

Voltemos à saída com os amigos. Se o adolescente não cumpre o estipulado deve haver sempre uma consequência, sustenta o psicólogo: “Não finjam que aquilo não aconteceu.” Que tipo de reação devem os pais ter? “Depende dos pais, do adolescente e do meio.” Acima de tudo, garante João Belchior, as consequências devem ser construídas em família e a penalização discutida com o adolescente. “O castigo obriga a refletir sobre o comportamento. O objetivo é repor a justiça moral da transgressão.”
De evitar são os castigos sem relação óbvia com a infração. Por exemplo, se o adolescente roubou não faz sentido ficar sem ver televisão. Mais apropriado será trabalhar algumas horas no local onde cometeu o furto. Nem sempre o ajustamento entre crime e castigo é possível. “O ideal é encontrar uma forma de repor a consequência da transgressão.”

Outra questão importante é definir quem aplica e retira o castigo. A lógica é sempre a mesma. Tem de haver congruência. A vários níveis. Perante a mesma ação, toda a família deve castigar da mesma maneira. Entre o casal não pode haver dissonâncias. Ou seja, não pode um membro castigar e o outro deixar passar em branco. Por outro lado, é desaconselhável o perdão só porque a meio do período do castigo o adolescente, por exemplo, tirou uma boa nota. Ou fez uma boa ação. Assim, um bom comportamento não invalida um mau. Um 16 a português não deve inocentar uma falta disciplinar. Do mesmo modo, o castigo não pode prescrever, nem ser adiado. Tem de ser aplicado logo após a infração. Sob o risco de a sua eficácia ficar comprometida.

Mas atenção, seja qual for o castigo, os pais devem deixar claro que o afeto que sentem pelo adolescente é incondicional, recomenda João Belchior. “Devemos transmitir o nosso desagrado. Dizer que estamos desiludidos com determinado comportamento. Mas nunca dizer: não gosto de ti!” Até porque um repto destes, atirado no meio de uma discussão, pode levar o adolescente a “sentimentos perversos”. Algo do género: “Perdido por cem, perdido por mil”, esclarece o psicólogo.

Receita para falhar

Quando se trata de educar crianças e jovens, há “ingredientes perfeitos para um mau resultado”, alerta João Belchior. A falta de tempo dos pais, a excessiva proteção das crianças e a fuga ao traumático, são alguns deles.

“A falta de tempo dá aos pais a terrível necessidade de compensarem as crianças com bens materiais.” Parece senso comum, mas para João Belchior nunca é de mais repetir que é urgente travar esta forma de reparação. Dar prendas ao longo do ano por qualquer pretexto banaliza o ato de presentear. Pior, alerta o psicólogo: “Vamos habituando as crianças na lógica de que a falta de afetos é compensada com coisas.” O psicólogo diz-se contra a desculpa, muitas vezes usada pelos pais, de que passam com os filhos “pouco tempo, mas de qualidade”. Por isso, esclarece: “Também é preciso quantidade de tempo.”

Mais difícil é contrariar o clima de medo “de tudo e de todos” vivido em torno das crianças. Como exemplo do extremo da proteção e até “da paranoia”, revela um caso real passado nos EUA. Onde uns pais se viram na iminência de perder a guarda dos filhos. Tudo porque alguém reportou aos serviços sociais que as duas crianças estavam sozinhas na rua. A explicação do episódio não podia ser mais simples. Tinham treinado com os pais o percurso mais seguro entre a casa e a escola. Os irmãos estavam instruídos para comunicar, via mensagem de telemóvel, a chegada e saída da escola. Mas o imprevisto aconteceu quando pararam junto de um portão para fazer festas a um cão. E, com essa paragem, suscitaram a preocupação do dono que as julgou abandonadas.

À receita para um mau resultado, João Belchior junta o medo irracional de causar traumas de infância. “Vivemos num tempo em que tudo pode ser traumático para as crianças”, ironiza o psicólogo, alertando para as “sérias” implicações que daí advêm. Exemplo? Vejam-se as dificuldades por que passam os professores quando querem reprovar uma criança no 1.º ciclo. “Mas a culpa também é dos psicólogos”, admite. Na assistência uma mãe insiste que a filha ficou “traumatizada” porque a professora de Inglês não lhe deu nota 5. E, por isso, falhou a inclusão no quadro de mérito da escola. No entanto, é consensual que gerir fracassos faz parte do crescimento. João Belchior defende o mesmo. “É importante que as crianças e os jovens falhem e tenham as competências para se levantarem!” Por outro lado, é preciso cuidado com a moda da promoção da excelência. Afinal, um 4 é uma boa classificação.


ANDREIA LOBO
É jornalista especializada em educação desde 2007, e nos últimos anos tem colaborado na produção de conteúdos do EDULOG, o think tank para a educação da Fundação Belmiro de Azevedo. Integrou projetos de investigação e divulgação científica nas áreas da educação para os media e da aprendizagem da leitura e da escrita. Antes, trabalhou em meios de comunicação social como o jornal A Página da Educação e o portal EDUCARE.PT.

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