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A fábula dos três porquinhos nos tempos modernos

Nos dias de hoje, se os três porquinhos aprendessem a construir as suas casas numa escola, lutariam com muitos problemas para compreenderem que a melhor opção é uma casa de tijolo e de pedra (apesar da persistência e do trabalho implicados), visto os paus e a palha serem objetos de construção pouco resistentes ao tempo e às adversidades.

Em tempos que já lá vão, três porquinhos resolveram morar sozinhos, construindo cada um sua casinha. Sabiam que o Lobo Mau os poderia atacar, e, por isso, embora alvo de troça dos irmãos mais novos (que queriam acabar o trabalho depressa para irem brincar), o mais velho resolveu fazer a sua casa de pedra e tijolos. O do meio, mais preguiçoso, preferiu paus, que davam bem menos trabalho e também abrigavam. As mesmas razões, acrescidas de uma ainda maior preguiça, levaram o mais novo a escolher palha como material de construção. Enquanto os dois mais novos, tendo terminado as suas casas rapidamente, foram brincar, o mais velho continuava a sua labuta. Todos sabemos o resto da história. Os irmãos mais novos viram as suas casas deitadas abaixo pelo sopro forte do Lobo Mau e apenas se salvaram porque o mais velho os acolheu numa casa que resistiu a esse terrível sopro.

Nos dias de hoje, se os três porquinhos aprendessem a construir as suas casas numa escola, lutariam com muitos problemas para compreenderem que a melhor opção é uma casa de tijolo e de pedra (apesar da persistência e do trabalho implicados), visto os paus e a palha serem objetos de construção pouco resistentes ao tempo e às adversidades. Aqui ficam alguns dos problemas de que falo:

  1. Os programas são muito extensos. O tempo de trabalho com os conteúdos em sala de aula torna-se reduzido.
  2. Os exames, cada vez em maior número, com as consequentes exigências de resultados, ditam como objetivo principal das aulas a preparação para os mesmos. Pelo caminho, perdem-se várias opções de trabalho, incluindo o desenvolvimento de projetos. Métodos pedagógicos e de trabalho mais continuado e consistente em torno dos conteúdos programáticos são inviabilizados pelas exigências expostas. É triste ainda verificar a tendência que vai surgindo de alargamento desta cultura a disciplinas tradicionalmente de carácter mais prático, como a Educação Musical ou a Educação Física, por exemplo, em que os instrumentos de avaliação cada vez mais incluem testes escritos de carácter mais teórico, bastante regulamentados (ou não) nos documentos orientadores de algumas escolas, em nome da transparência.
  3. Quando alguns professores tentam ensinar técnicas de estudo aos alunos (por exemplo, de memorização, que ultrapassem a simples cópia) nem sempre são compreendidos pelos pais. Muitos destes não vão à escola pedir esclarecimentos e tentar compreender as intenções dos professores; escrevem logo na caderneta que o filho fez os TPC (a cópia, embora não a tarefa pedida pelo professor) e que não concordam com a falta de TPC que lhes foi comunicada. Desta maneira, a qualidade da forma como se estuda torna-se irrelevante e a criança aprendeu que pode continuar a fazer a cópia que sempre fez em vez de tentar aprender as novas técnicas que o professor propõe. O professor saiu desautorizado e o incumprimento, legitimado.
  4. O exemplo anterior é um dos vários em que alguns pais se apressam a dar razão aos filhos quando lhes é comunicado um incumprimento dos mesmos pelo professor, pensando assim estar a defender as crianças ou jovens. É bem possível que o professor tenha sido injusto e, se tal aconteceu, não me parece que os pais devam omitir isso aos filhos. No entanto, não será sensato obter primeiro informações junto do professor/diretor de turma, antes de agir assumindo que “a criança tem sempre razão”?

Todos queremos para as nossas crianças futuros sólidos como casas de tijolo e pedra bem construídas, e que, como tal, estejam apetrechadas para resistir aos inúmeros “lobos maus” dos tempos modernos. Todos sabemos que para as construir é preciso materiais bons e técnicas adequadas. Todos sabemos que estas só se aprendem fazendo, com esforço e persistência. Todos sabemos que a construção de uma casa requer colaboração de vários técnicos e articulação entre todos.

Atualizei a fábula à escola. Deixo a atualização das conclusões aos leitores.


ARMANDA ZENHAS
Professora aposentada. Doutora em Ciências da Educação pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto. Mestre em Educação, área de especialização em Formação Psicológica de Professores, pela Universidade do Minho. Autora de livros na área da educação.
Professora profissionalizada nos grupos 220 e 330. Licenciatura em Línguas e Literaturas Modernas, nas variantes de Estudos Portugueses e Ingleses e de Estudos Ingleses e Alemães, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Professora profissionalizada do 1.º ciclo, pela Escola do Magistério Primário do Porto.

Artigo originalmente publicado no Educare.pt

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