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Terá alguma importância para a criança do jardim de infância o contacto com textos de autores portugueses quando há tantos autores estrangeiros, de renome internacional, que se têm dedicado a esta faixa etária?
Parece-me que é imprescindível pois só eles transmitem o fascínio pela nossa língua que nos deve cativar desde os primeiros anos, brincando com as palavras que usamos no dia a dia, fazendo-nos descobrir a sua versatilidade, desenvolvendo, através de situações ligadas à realidade local, o gosto pela identificação, pela descoberta.
O dia do autor português, para os mais pequenos, deve também abranger os autores anónimos que, ao longo dos séculos, criaram um tesouro: o património da literatura oral. São eles os responsáveis pelas lengalengas que tanto desenvolvem ludicamente a memória, pelos trava-línguas que, em jeito de desafio, melhoram a dicção, pelas adivinhas que fazem pensar e são também um fator de desenvolvimento.
Eu aprendi a amar a língua divertindo-me com o meu pai, que sabia de cor muitos jogos e rimas infantis, os quais nunca mais esqueci, que fazem hoje parte de mim, e sinto-me na obrigação de os ir passando às novas gerações.
Diariamente verifico nas escolas como as crianças do jardim de infância aderem com redobrado entusiasmo aos textos elaborados em português.
Quando hoje os autores se deslocam a estabelecimentos de ensino, privilegiam cada vez mais os encontros com os mais novos e encontram neles extraordinárias capacidades de fruição de literatura infantil, uma imaginação muito fértil e espontânea e até um gosto pela criação autónoma. Às vezes ao entrarem para o 1.º ciclo, começam a ficar formatados de acordo com programas que lhes cortam certa autonomia de expressão.
Um dia o meu neto de 3 anos disse-me:
- Avó, tu és indecente.
- Porquê?
- Porque só escreves para os mais velhos. E nós queremos livros para nós.
Dei-lhe toda a razão e desde então tenho-me deliciado a escrever para quem não sabe ler, mas tem uma inaudita capacidade de captar, de compreender, de questionar, de interagir.
Sugiro a todas as educadoras que desvendem às suas crianças todas as potencialidades da literatura de autor e sem autor escrita na nossa língua, porque ela é, como dizia Pessoa, a nossa verdadeira Pátria.
LUÍSA DUCLA SOARES
Nascida em Lisboa e licenciada em Filologia Germânica, dedica-se especialmente à literatura infantojuvenil como autora, estudiosa, divulgadora. Tendo sido jornalista, adjunta do Ministério da Educação e trabalhando 30 anos na Biblioteca Nacional, tem realizado numerosas sessões de incentivo à leitura e conferências em escolas, bibliotecas, universidades.
Autora de cerca de 130 livros, recusou, por motivos políticos, o Prémio Maria Amália Vaz de Carvalho e foi por duas vezes galardoada pela Fundação Calouste Gulbenkian, uma delas pelo conjunto da sua obra.
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