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Satisfaz bastante no teste? Só?

Numa sociedade cada vez mais competitiva em que as oportunidades de futuro para os jovens escasseiam, muitos pais sentem que a melhor forma de ajudar os filhos é fazer deles os “melhores” academicamente. Para essa perspetiva são também empurrados por uma escola de rankings, de quadros de mérito, de endeusamento de exames a/em todos os níveis.

Manuel recebeu o teste de Matemática. Com o seu Satisfaz Bastante na mão, rompeu em pranto. Perante a surpresa da professora, explicou que iria ser alvo de repreensão em casa porque não tinha tido Excelente.

Sofia tinha feito quase todo o teste de Ciências, quando a professora deu com ela nervosa, roendo a caneta e de lágrimas nos olhos. Não sabia fazer a antepenúltima pergunta. O receio de não conseguir ter Excelente (a única nota que concebia como aceitável) paralisou-a e não lhe permitiu perceber que era preferível deixar essa pergunta de parte e avançar.

Rodrigo teve Excelente no teste de Português. Apesar disso, não mostrava a satisfação que o professor esperava. O professor compreendeu depois que, a Rodrigo, não bastava ter boa nota: ele precisava de ter “a melhor” nota da turma para se sentir feliz. De resto, iria ser questionado em casa sobre o seu posicionamento no “ranking” da turma e a resposta seria recebida com ar de censura.

Histórias exageradas, as que acaba de ler? Não. Correspondem a casos reais de estudantes que vivem sob uma constante pressão familiar para o sucesso máximo e para o “melhor” sucesso. Numa sociedade cada vez mais competitiva, em que as oportunidades de futuro para os jovens escasseiam, muitos pais sentem que a melhor forma de ajudar os filhos é fazer deles os “melhores” academicamente. Para essa perspetiva são também empurrados por uma escola de rankings, de quadros de mérito, de endeusamento de exames a/em todos os níveis. E assim, querendo o melhor para os filhos, os pais pressionam-nos e exigem deles a excelência.

Muitos estudantes aplicados, com gosto na aprendizagem, e até com bons resultados, veem os seus esforços serem incompreendidos e não recompensados quando, ao não obterem uma nota excelente (ou até a melhor nota), são alvo de repreensão (quando não de castigo). A penalização é dupla: a nota que não queriam e a censura familiar. A insatisfação pessoal e a falta de autoconfiança vão crescendo, a ansiedade perante situações de avaliação aumenta e os resultados pretendidos pelos pais acabam por ficar cada vez mais fora de alcance.

Histórias idênticas podem ocorrer com estudantes menos bem-sucedidos, cujo rendimento académico, embora sendo positivo, não corresponde ao desejado pelos pais, preocupados com o futuro dos filhos.

Autoconfiança, persistência, resistência à frustração, capacidade de resolução de problemas, gosto por aprender, responsabilidade são ingredientes importantes (entre outros) para a construção de sucesso. Os resultados académicos serão uma consequência do seu desenvolvimento. Não importa ser o melhor; importa procurar fazer o melhor. E quando os resultados não correspondem ao investimento feito, os pais e os professores devem estar lá, para ajudar a perceber o que não correu bem e encontrar caminhos mais eficazes; e para dar a confiança necessária para resistir à frustração e persistir no trabalho, de forma responsável.


ARMANDA ZENHAS
Professora aposentada. Doutora em Ciências da Educação pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto. Mestre em Educação, área de especialização em Formação Psicológica de Professores, pela Universidade do Minho. Autora de livros na área da educação.
Professora profissionalizada nos grupos 220 e 330. Licenciatura em Línguas e Literaturas Modernas, nas variantes de Estudos Portugueses e Ingleses e de Estudos Ingleses e Alemães, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Professora profissionalizada do 1.º ciclo, pela Escola do Magistério Primário do Porto.

A informação aqui apresentada não substitui a consulta de um médico ou de um profissional especializado.

Artigo originalmente publicado no Educare.pt

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