O tratamento da diabetes vai alterar um pouco as rotinas da criança. Essas alterações serão mais sentidas no período logo após o diagnóstico, quando tudo ainda é novo e assustador. Mas, com o tempo, e com ajuda dos profissionais de saúde e dos pais/familiares rapidamente a criança se adapta à nova realidade.
O que é a diabetes?
A diabetes Mellitus é uma doença metabólica crónica, com origem num distúrbio no nível do açúcar (glicose) no sangue. Os valores de açúcar no sangue elevam-se porque a produção de insulina não é suficiente ou pela existência de defeitos na ação da insulina.
Estima-se que existam, aproximadamente, 400 milhões de pessoas com diabetes em todo o mundo, contudo, os números continuam a aumentar.
A diferença entre a diabetes tipo 1 e a diabetes tipo 2
Existem dois tipos de diabetes:
Tipo 1 – é a forma mais comum de diabetes nas crianças e resulta da destruição súbita e irreversível das células insulínicas do pâncreas, ou seja, o pâncreas deixa de produzir insulina, e a glicose no sangue aumenta rapidamente. O tratamento da diabetes tipo 1 é feito com insulina.
Tipo 2 – é a forma mais comum da diabetes (90% dos casos); afeta, normalmente, adultos e idosos, com excesso de peso e obesidade, e com estilos de vida mais sedentários e maus hábitos alimentares. O pâncreas não consegue produzir insulina suficiente para controlar os níveis de açúcar no sangue, e estes vão aumentando progressivamente. A diabetes tipo 2 também pode ser causada por uma resistência à insulina por parte do organismo.
Este tipo de diabetes também pode aparecer em adolescentes obesos. Neste caso, o adolescente é capaz de produzir insulina, mas a obesidade provoca uma resistência das células à sua ação, isto é, a insulina não permite a entrada da glicose nas células, e esta acumula-se no sangue, resultando numa hiperglicemia.
O tratamento da diabetes tipo 2 pode ser feito com antidiabéticos orais e/ou insulina.
Como se manifesta a diabetes?
Sintomas:
sede excessiva;
poliúria (urinar com muita frequência e em grande quantidade);
emagrecimento;
cansaço;
visão turva;
aumento de apetite.
Como é que a diabetes interfere no quotidiano da criança?
O tratamento da diabetes vai alterar um pouco as rotinas da criança. Essas alterações serão mais sentidas no período logo após o diagnóstico, quando tudo ainda é novo e assustador. Mas, com o tempo, e com ajuda dos profissionais de saúde e dos pais/familiares, rapidamente a criança se adapta à nova realidade. Os principais fatores que interferem na vida da criança com diabetes são: necessidade de medir a glicemia várias vezes ao dia, não poder comer “tudo o que quiser na hora que quiser” e ter de aplicar a insulina (injeção subcutânea).
Como deve ser a alimentação de uma criança com diabetes?
Devem ser rejeitadas as dietas rígidas e não individualizadas. Se não são recomendadas para os adultos, menos ainda para as crianças. Em primeiro lugar, deve ser tida em conta a atividade física da criança, pois a dieta deve cobrir suas necessidades nutricionais, e não é a mesma coisa recomendar 1500 calorias para uma criança ativa e para uma criança sedentária. Em segundo lugar, os gostos particulares de cada família devem ser respeitados, já que isso permitirá uma melhor adaptação às recomendações. Uma mudança brusca nos tipos de alimentos e pratos confecionados pode ser rejeitada e contraproducente.
Convém, acima de tudo, envolver a criança, se a sua idade o permitir, na elaboração dos menus semanais, de maneira que vá tomando consciência da sua doença e aprendendo a selecionar alimentos apropriados para cada momento. Além disso, uma dieta rígida e entediante pode incitar a rebeldia, o que não é desejável.
Manter um aporte constante de carboidratos complexos nas refeições principais (arroz ou massa integral, batatas...) e reservar os carboidratos simples, como as frutas, para os lanches secundários, as merendas e para os momentos que se preveja um gasto extra de energia. Limitar as gorduras consumindo carnes magras e outras gorduras saudáveis, como o azeite ou os frutos secos, úteis também como aporte extra de energia. Tentar consumir legumes e hortícolas em abundância, já que contribuem com proteínas de alto valor biológico se combinados com cereais, além de uma longa lista de micronutrientes e fibras.
10 dicas para uma criança com diabetes
Não estar mais de 3 horas seguidas sem comer: é ideal que tal não aconteça, pois a rotina alimentar facilita o planeamento da administração de insulina.
Oferecer uma alimentação equilibrada: a criança com diabetes deve ser acompanhada por um/a nutricionista, pois será realizado um plano alimentar no qual constam os alimentos que podem ser ingeridos e aqueles que devem ser evitados.
Não oferecer açúcar: ao receber o diagnóstico de diabetes, é necessário que a família da criança não ofereça alimentos ricos em açúcar, modere a quantidade de hidratos de carbono e planeie as refeições.
Evitar ter doces em casa: deve evitar-se ao máximo ter doces em casa, como bolos, bolachas, chocolates ou outras guloseimas, para que a criança não sinta vontade de comer. Além disso, é importante que os restantes membros da família também não comam esses alimentos na presença da criança.
Levar doces com menos teor de açúcar para as festas: para que a criança com diabetes não se sinta excluída nas festas de aniversário, pode oferecer-se doces feitos em casa, que tenham um menor teor de açúcar.
Incentivar a prática de exercício físico: a prática de exercício físico ajuda a controlar os níveis de glicose no sangue e deve ser um complemento do tratamento para a diabetes na criança, por isso os pais devem incentivar a realização de atividades físicas. É importante manter uma rotina de exercícios que gere bem-estar na criança e que seja adequada à idade, por exemplo, o futebol, a dança ou a natação.
Ter paciência e ser carinhoso: as picadas diárias para administrar insulina ou fazer testes de glicemia podem ser dolorosas para a criança, por isso é muito importante que a pessoa que vai dar a picada seja paciente, carinhosa e explique o que vai fazer.
Deixar a criança participar no tratamento: deixe a criança participar no seu tratamento, permitindo, por exemplo, que escolha o dedo para a picada ou segurar na caneta de insulina, o que pode tornar o processo menos doloroso e menos dramático.
Informar a escola: informar a escola sobre a situação de saúde da criança é muito importante, caso tenha de realizar uma alimentação específica e tratamentos fora de casa. Assim, os pais devem solicitar uma dieta adaptada às necessidades da criança, pedir para que sejam evitados doces e explicitar os procedimentos relativamente à administração da insulina. Os colegas de sala devem estar a par da condição da criança.
Não tratar com diferença: a criança com diabetes não deve ser tratada de forma diferente, pois, apesar dos cuidados constantes, ela deve ter liberdade para brincar e para se divertir. A criança diabética pode ter uma vida normal.
A insulina, o exercício físico e a alimentação saudável são os pilares do tratamento da diabetes na criança (diabetes tipo 1). Se for efetuado um bom controlo dos níveis de açúcar no sangue, a criança poderá manter padrões de vida normais, tal como outras crianças da mesma idade (a nível educacional, profissional e social). Para isso, é importante o envolvimento de toda a família e da comunidade em que a criança está inserida.
Ana Sousa
Licenciada em Ciências da Nutrição pelo Instituto Superior de Ciências do Norte, sendo Membro Efetivo da Ordem dos Nutricionistas com a cédula profissional n.º 2187N; curso de Nutricoaching pelo Instituto de Nutricoaching; pós-graduação em Segurança Alimentar pela Universidade Católica do Porto.